22 de março de 2008

DRAMATURGICAMENTE FALANDO...



"ENTREVISTA COM OSVALDO MORAIS


DRAMATURGICAMENTE FALANDO

A cada dia, procura-se invadir outras fontes de informações culturais ou anticulturais ou que provoque questionamentos através de raciocínios pré-socias existentes. A meta é ainda desconhecida, mas tentamos na ordem dos nossos dias, trazer algo que você leitor, se sinta bem com a leitura de agora. O Zine Inde agradece insistentemente aos nossos companheiros de todas as horas, de todos os meses de atrasos, de cartas não respondidas, de cartas extraviadas, enfim. Nossa luta continua! Passamos na residência de OSVALDO MORAIS, um dos poucos dramaturgos que habitam a cidade de Ribeira do Pombal-Ba, cidade onde o Inde é atormentadamente e arduamente editado. Sendo o responsável exato por boa parte da linguagem do teatro local, ele chega a esta metade de década com a responsabilidade de levar sem tanto fôlego e tempo, o respaldo de teatro que existe na cidade distante pouco mais de 4 horas da capital da Bahia. Há mais de 10 anos fazendo teatro na cidade, ele cita aqui todas as questões que ficam e intrigam o caos regional de desafinação financeira e descaso artísiticos. Comenta um pouco dos projetos e da nova geração de grupos amadores da cidade, que de forma tímida e ousada vem quebrando o silêncio dos palcos das ruas da velha localidade. Em discurso hora otimista, hora cansado de tudo, Osvaldo Morais deslancha a culpa do atraso e de perdas na arte da cidade. Questiona-nos quando a questão é futuro, e dá graças a Deus por existir grupos que segundo ele "dão murros nas paredes" no que diz respeito ao teatro na cidade. O que sai desta entrevista é o raios-X das mãos do teatro local... O resto dos raios-X do corpo do teatro da cidade-pólo, você vai ser obrigado a imaginar, fazer sua própria fábula e tentar criar um diálogo, entre dificuldades respiratórias e ossos quebrados.

Boa leitura!

INDE:
Como você definiria a dramaturgia feita com suas palavras? O. Morais: Eu classificaria como um teatro que tenta unir um pouco da comédia e da dramatização. Eu não gosto de tocar apenas "um lado". Gosto de pegar o lado dramático da história, até mesmo pra dar uma mensagem final... Para que o público possa sair com uma mensagem. Mas, também com pinceladas de comédia, que é para prender o público que está assistindo a própria dramatização. É o que os gregos chamam de catarse. Para que as pessoas se identifiquem com a história. São cenas comuns, que indere essas duas coisas: comédia e drama, drama social. INDE: Qual a finalidade da comédia nos seus textos? O. Morais: Ela vem trazer a atenção para o problema. às vezes, é um problema social sério, mas ao mesmo tempo aquilo vem retratado com humor... Aí, as pessoas se surpreendem mais à mensagem. INDE: Como é fazer drmaturgia em Ribeira do Pombal? O. Morais: É descobrir o caminho das pedras! Não temos aqui muito público, nem apoio. Apoio material mesmo. Nem incentivo; não há... Mesmo quando o poder público diz que está "dando" um apoio... Esse apoio normalmente encerra um interesse político partidário, um interesse pessoal... E a gente não pensa dessa forma . Pensamos em apoio pela arte, o apoio pela juventude, não pra dizer: "eu estou apoiando". E aí divulgar o nome de cicrano e beltrano...Aqui muitas vezes, eles vêem o interesse para eles e não o retrono para a arte. E isso me deixa um pouco desanimado. Acaba sendo algo "mal visto". O público não é tão grande... A gente tem que tirar leite das pedras para que saia alguma coisa. Eu digo, porque estou neste caminho desde quado estudava a 7ª série do ensino fundamental. INDE: Qual a atual situação do teatro local? O. Morais: Hoje me dia, eu diria que está tão difícil como antigamente. Não mudou muita coisa. GRaças a Deus que surge de vez em quando um grupo ou outro... Algumas pessoas que se interessam e que tentam e fazem alguma coisa. Mas que é nadar contra maré. São três grupos atuando com muita lentidão, justamente por conta dos problemas, como citei. Falta incentivo, apoio público... Até mais que isso, incentivo ao público que não existe. Claro, que para que essas pessoas passem a gostar da arte, do que outra coisa... O que não acontece nas cidades grandes, aonde as pessoas vai e procura o teatro, porque gostam de teatro. Aqui na cidade pequena, a gente tem que trabalhar para que as pessoas "vão" ao teatro por algum outro motivo, ou outra opção. É por uma questão de incentivo a arte, um trabalho de educação, pela própria arte, em relação ao próprio público. INDE: Comente um pouco sobre suas obras. O. Morais: Tem uma peça que foi bastante vista, se chama "O golpe do caipira", um texto bem voltado para o interior, mas já faz um bom tempo que não é montada. "Pombalenses à luta ou proeza de viver", que é um texto que procura tratar dos problemas locais e regionais - um homem que sai do interior e vem pra cidae grande achando que vai ter grandes mudanças, e depois ele percebe que saindo de sua roça e indo pra cidade os problemas só mudam de nome. É uma peça que trata das ilusões e das desilusões dos sertanejos. Outra peça é a comédia "Brasil com z de Zé", que trata dos percalços da língua portuguesa, trata do estrangeirismo em nossa língua. Temos "Tempos de mudar", "Até quando?" Que está sendo montada atualmente... INDE: A arte no Brasil é elitizada? O. Morais: A elite tem facilidade à arte. Mas, eu diria que o BRasil está despertando bastante com grupos de caráter popular, principalmente nas últimas décadas. Eu citaria até na própria música o "Cordel do Fogo Rncantado" que mistura ritmos regionais populares com infinitos rock's a forró. No próprio teatro a gente vê vários grupos de rua que tem a missão de levar a arte onde o povo está. Mas, a elitização senpre vais existir, porém o povo vem despertando muito por arte, através de grupos pioneiros da música, do teatro, da poesia. Eu diria que o Brasil é um dos países no mundo que mais faz arte popular... A própria vivência do brasileiro, já vem como grande caracter´sitica de "viver fazendo arte". INDE: Para quem você escreve? O. Morais: Eu escrevo para o cidadão comum. Não tenho nenhum texto voltado à elite, eu não gosto. Escrevo para o cidadão que trabalha o dia inteiro e precisa vivenciar algo diferente. INDE: Todas as companhias de teatroda cidade de Ribeira do Pombal recorre ou recorreram aos seus textos para trabalhar... Isso não tornou seus trabalhos repetitivos e em alto-exposição? O. Morais: Eu não sei se todas elas já recorreram. Eu não faço nenhuma restrição para que qualquer pessoa use. Inclusive, todos que tem pedido eu tenho dado, e autorizo até que façam mudanças. Talvez, não sei se é por isso que se tornem repetitivos. Eu acho que quem pode dizer isso são eles! Mas, o que eu procuro fazer é contribuir. Até mesmo pela falta de recursos que nós temos. INDE: Qual seria seus planos fora o teatro? O. Morais: Eu tenho um livro de contos e poesias que esta pronto há 6 anos, que também tem um caráter humanitário, mais humano, do que puramente diversão. Eua ainda não o lancei, não por uma causa da dificuldade financeira, também porque para mim só vale a pena lançar esse livro quando for através de um editora. Por quê? Porque eu não quero publicar 100,200 livretos, 1000, 2000 que seja... Para que as pessoas, como acontecem aqui, comprem "para me ajudarem". Não quero isso. Quero que eles comprem o livro para ler. Por isso a minha espera. Em relação à pintura, eu pinto para mim mesmo e não tenho nenhuma intenção de fazer uma exposição, nem vender ou coisa do tipo. E estou começando um trabalho com um espécie de ONG local para enisnar as pessoas a pescar seus próprios peixes, um trabalho com cursos profissionalizantes. Trabalhando através de pequenos projetos para crescer dentro dessa idéia com o propósito de que "você sabe um pouco? Passe isso para o próximo, passe adiante. INDE: Você vê futuro na cena de teatro local? O. Morais: Primeiro gostaria que você me falasse um pouco sobre esse "futuro, o que é ele? INDE: seria, daqui a dez anos a cidade ter ao invés de 3,10 ou 15 grupos de teatro com força e tonalidade de funções sociais; seria daqui há algum tempo a cidade ter seu primeiro teatro; seria a cidade ter uma base fundada de oficinas e que isso refletisse em boas junções teatrais entre os grupos, talvez seria tudo isso o básico. Seria o futuro. Pelo menos é a base futurística que posso ter desta atual fase já que acompanho na medida do possível esta geração. O. Morais: Entendi. É bom ressaltar que a gente tem um problema serissímo com nossa "cena" que é a fuga de pessoas talentosas para outros pólos culturais. Os da primeira geração, não tiveram tiveram como se manter na cidade por conta da falta de perspectiva mesmo, não na arte, mas na vida em si. Não tendo uma fonte de sobrevivência po aqui às pessoas vão procurar fora. Antes de pensar em um futuro, a gente deveria primeiro tentar manter essas pessoas na cidade primeiramente. Daí depois sim, começaria a trabalhar em cima de planos maiores. A base e o futuro da cena daqui dependem desta questão. Enquanto não resolver isso, não vejo um porque de futuro. E na questão de construir um teatro municipal, temos que cobrar mais. Eu vejo aí à importância destes grupos atuais de estarem dando murro contra a parede... Tem que inistir e tem que lutar. Eu vejo sim, no meu otimismo, que está muito próximo dessas pessoas talentosas que se vão, ficarem na cidade e darem à voz.
A cidade está crescendo aos poucos, mas, está crescendo e com isso as pessoas vão, daqui a certo tempo, ficar por aqui mesmo. Teremos aí a bases muito boas para ter um futuro com todas as indicações que você disse.

Entrevista: Danilo Cruz
Entrvistado: Osvaldo de Morais, professor, poeta, dramaturgo."
(Entrevista publicada no INDE #21-Março/2008)

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