23 de abril de 2008

“ESTAVA À TOA NA VIDA E O MEU AMOR ME CHAMOU, PRA VER A BANDA PASSAR, CANTANDO COISAS DE AMOR”



Os versos de A Banda, música celebre composta por Chico Buarque, revela aos mais atentos, nas entrelinhas, o oposto que a letra anuncia. A composição é contemporânea ao golpe militar de 1964 e ali Chico pretende expor o carisma que a banda (marcial/fanfarra) filarmônica exerce sobre a população.

A moça, o velho, a criança. Todos são atraídos pela alegria entusiástica da melodia e o do som dos instrumentos de uma filarmônica quando ecoam na rua, o que comprova o quanto a música é uma arte primaz, que se enobrece pelo fato de seduzir e emocionar a todos, independentemente do tipo ou estilo.

Quando se trata de uma filarmônica, qualquer pessoa é instigada a, no mínimo, correr até à porta da casa para vê-la passar. Outros, a acompanham mesmo por todas as ruas da cidade.

Diante disso, vê-se que a “banda” é um patrimônio cultural importante, tendo em vista a relação visceral que pode ter com o povo de um lugar.

A música brasileira é mundialmente reconhecida como de grande qualidade. Incluindo todos os gêneros musicais, inclusive a instrumental e dentro desta aquela produzida pelas filarmônicas.

Entretanto, tradicionalmente, as bandas filarmônicas têm servido mais ao poder público e às forças armadas, onde inclusive tem seus soldados músicos e sua origem, do que à comunidade na qual está inserida, de forma a transformá-la verdadeiramente através da música e não apenas entretê-la.

O fato de que o exército, historicamente, capitaneou alguns momentos políticos, cujo desenlace provocou novos rumos político-administrativo, dentre eles o golpe de 1889, conhecido como a “Proclamação da República”, e o de 1964, conhecido como “Golpe de 64”, nunca deve ser esquecido pelo sério prejuízo que causou à Nação, em especial à liberdade civil e os direitos políticos.

Em relação a nossa Filarmônica, XV DE OUTUBRO, é inegável o belo trabalho feito de revitalização da mesma. Hoje ela conta com sede, boa parte dos instrumentos são novos e de qualidade. Uniforme novo e tudo mais. Apresentações em outras cidades, enobrecendo Ribeira do Pombal. Revitalização que é merecida, em se tratando de um patrimônio de 120 anos que há pouco tempo estava completamente esquecido e abandonado. Louros à atual administração e ao diretor de cultura.

Recuperada e reconhecida, a Filarmônica deve se desvencilhar de todo esse passado obscuro de nossa história recente, afastar-se dessa identidade marcial e oficialesca, de banda de comício e inaugurações. De coreto e palanque, feita para servir ao poder, o que era bem típico na época em que surgiram neste país. Hoje deve tocar mais para o povo e apenas para o povo. Utilizar-se do grande poder da música, a arte maior, para levar mais alegria e saber para esse povo tão sofrido e como na música de Chico Buarque, por um momento se despedir da dor, pra ver a banda passar, cantando coisas de amor...
(Paulo Ferreira)

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